Améns com cafés
Eu trabalho em casa, como todos sabem. Consegui controlar
minha rotina de dormir e acordar cedo, inclusive, tive uma ajuda muito especial
para isso.
No momento em que abro os olhos com a claridade da janela me
alcançando, tiro forças para enfrentar o frio que ultimamente tem feito por
aqui e pular da cama. Jogo os travesseiros na cômoda, estico o lençol e as
cobertas deixando o quarto igual de comercial de moveis. Antes eu pensava... “
pra que arrumar? O marido logo chega e revira tudo para dormir...” mas descobri
que o engate inicial do meu dia está em ver meu quarto arrumado.
Vou para o banheiro fazer minhas higienes, aproveito para
trocar de roupa que deixo penduradas no cabide atrás da porta e no lugar da
roupa do dia, eu coloco a roupa da noite. Pego o celular do criado e desço para
a cozinha preparar aquele ligeiro cafezinho preto. Enquanto a agua esquenta eu
pego minha mini-jabuticabeira para tomar banho de sol depois de alguns golinhos
de agua. Abro as janelas deixando a brisa fria saudar o corredor até se retirar
pelas janelas do fundo.
Brinco com a cachorra e faço careta para olhar o sol.
Com menos de vinte minutos fora da cama eu estou tomando meu
café correndo o canais na televisão, habito que quase perdi da casa dos meus
pais, e, toda vez que me pego assistindo as primeiras noticias do dia, lembro
da minha mãe me acordando de manha para ir à escola enquanto ela se maquiava em
frente ao espelho ouvindo a mesma programação na tv, papai é que preparava o
café e retirava o lixo durante a longa espera de uma mulher se arrumando.
Lembro disso e sorrio, sinto saudades, quando estou no meu período
sentimental devido a TPM eu até deixo escorrer uma lagrima. Lagrima de uma
lembrança feliz.
Não sinto que já tomei toda a caneca de café, me animo: é
hora de trabalhar! Subo para o escritório, ligo o computador e espero, no
celular já vejo as atualizações dos amigos através das fotos e escolho a
playlist do dia, algo animado.
Quando tem trabalho eu trabalho, quando não tem eu vejo
cursos e vídeo aulas.
O marido chega, paro tudo que estou fazendo para ir
recebe-lo. Trabalhar de noite é cansativo. Pego o café e preparo panquecas, não
todos os dias, as vezes eu revejo com um pão na chapa. Pergunto como foi o seu
dia, alias, como foi sua noite. Ele me conta as novidades e durante sua
refeição, eu estou no café.
Ele precisa dormir. Antes disso fizemos um trato. Vamos Orar!
Ajoelhamos juntos no chão da sala de frente para o sofá e
com as mão juntas clamamos e lembramos de toda a família e amigos, TODOS, sem exceção.
Inclusive forçamos a mente para lembrar de uma enorme família distante.
Amém!
Ele sobe pra dormir, eu subo para trabalhar. Enquadro o
quadril na cadeira quadrada do escritório ajustando o relógio para daqui quatro
horas levantar.
Tec tec tec do teclado, click click click do mouse, a
cadeira geme com o movimento de vai e volta da perna balançando ao som da
musica. Eu mal vejo a hora passar mas felizmente o trabalho está pronto, aviso
o cliente e começo fazer o upload dos arquivos.
Com muito cuidado entro no quarto e sussurrando pergunto
para o benzinho se ele quer almoçar. Quando ele não está com fome é melhor. Faço
algo rápido apenas para eu comer enquanto vejo a cachorra da janela. Quando ele
quer comer eu boto o avental e preparo arroz, feijão, salada e uma carne.
Mais um café por favor.
Eu volto para o trabalho que está apenas alguns lances de
escadas. O marido cuida dos bichos e fica vendo tv até pegar no sono novamente.
O tempo na frente do photoshop não existe, ele se movimento
com a velocidade da luz. Eu amo o que faço. O dia não existe mais, já são seis
horas, quase noite.
Me permito acabar com isso, desligo o computador, vou para a
cozinha e boto algo para cozinhar. Ligo a Tv coloco uma musica, tomo um banho rápido
e me arrumo para jantar com o marido com uma mesa posta de maneira linda. Não
deixamos o romance sumir da casa.
É nosso momento. Jantamos e limpamos a cozinha juntos. Nos
acolhemos no calor do abraço na frente de um seriado e ficamos assim até o
momento que ele tem que partir para seu emprego.
Assim que ele sai, eu volto a me ajoelhar. Nunca pensei que
eu teria tanta coisa para falar pro Pai. Agradeço por cada detalhe do meu dia,
que mesmo não sendo emocionante é simples e necessário. “...somente o necessário,
o extraordinário é demais...” só precisamos disso. Saber que estamos e
ficaremos bem, que teremos amigos e família para dividir e compartilhar uma boa
conversa com um café preto.
Amém!
Os joelhos até doem, mas, a cabeça, assim que encosta no
travesseiro... Apaga...
Antes eu dormia com o peso dos meus problemas e
preocupações. Hoje eu entrego nas mãos do Homem que nunca dorme, e ele cuida
disso por mim enquanto descanso.